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sobre o livro
A metáfora do canibalismo — em especial sua versão forjada pelo movimento modernista brasileiro, a antropofagia — é a plataforma de decolagem que Zita Nunes elegeu para abordar a formação das identidades nacionais e raciais nas Américas. Nesta análise inovadora e precisa, a especialista em literatura comparada pela Universidade da Califórnia dá mais uma volta no parafuso ao evidenciar a necessidade de uma releitura crítica da gênese do próprio conceito popularizado por Oswald de Andrade.
Segundo ela, a ideia de deglutição da cultura europeia para a formação de uma cultura brasileira excluiu da equação justamente a matéria da qual o livro se ocupa. Por meio da imagem do “resíduo”, nos damos conta de questões que não foram contempladas no debate inaugural. A partir da produção artística e ensaística brasileira e norte-americana, Nunes nos guia nesta jornada que ilumina aspectos fundamentais e problemáticos, como o mito da democracia racial. Mais do que isso, o que é posto em xeque é a própria visão que prevaleceu até o início do nosso século sobre negritude, miscigenação e identidade. A aproximação entre a antropofagia canônica de Anita Malfatti, Paulo Prado e Tarsila do Amaral e outras manifestações afro-diaspóricas brasileiras e norte-americanas — como alguns textos do Renascimento do Harlem, as ideias de Toni Morrison e W. E. B. Du Bois —, além de certa produção ficcional latino-americana e caribenha, incorpora nesse debate o resíduo, esse espectro que assombra a ideia de conciliação e mina as ideologias de democracia que defendem ter solucionado o problema racial.DESTAQUES
“O aguardado Democracia canibal, de Zita Nunes, fornece uma nova cartografia a respeito da cultura intelectual da diáspora africana. Com rico e variado acervo, contrapondo romances e artigos de jornal, manifestos e arte visual, o livro revela os paralelos entre as estratégias afro-americanas e afro-brasileiras de contestação da exclusão racial.”
— Brent Hayes Edwards
“Uma contribuição inestimável para os estudos críticos de raça na literatura e na cultura.”
— Postcolonial Text
“[Democracia canibal é] pioneiro em sua abordagem transnacional e interdisciplinar à medida que analisa como a identidade é firmada e como ela pode ser desestabilizada.”
— Luso-Brazilian Review